quarta-feira, 27 de março de 2013

A que horas passará o autocarro? (Luís Gonçalves)


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AUTOR: Luís Gonçalves
COMÉDIA

TEATRO


Se estiver interessado/a em representar esta peça de teatro agradecia que entrasse em contacto comigo, através do meu email: goncalvesluis_1@hotmail.com

ou telemóvel: 916940893


PERSONAGENS:


Jovem estudante:

Dona Celestina:

Piélas (bêbado):

2 homens:

1 senhora:

Graça:

Rapaz das Pizzas:

Policia:

Motorista:

Senhora de Idade:






CENA 1


Numa paragem do autocarro, está um individuo todo embriagado deitado no chão a dormir tem um carapuço todo sujo na cabeça. Sentada no banco está uma senhora com cerca de 60 anos a fazer a sua renda á espera do autocarro, tem uma carteira ao pé de si. Esta usa uma grande cabeleira, tem metade do buço (bigode) por fazer e uns oculos ao fundo do nariz. Além de um banco, há um sinal de paragem de autocarros e um caixote do lixo. Há uma jovem estudante, dois homens e uma senhora em pé à espera do autocarro.



Jovem Estudante: (solilóquio) Que seca pá! É sempre a mesma coisa. Os autocarros sempre atrasados. Vou chegar outra vez tarde às aulas. Depois o professores dão-me na cabeça. Que cena pá! (pausa) Estou a ficar cá com uma fome do caraças. E se eu liga-se para a pizzaria? Será que dá tempo até o autocarro chegar? Vou tentar. (pega no telemóvel marca um número e fala ao telemóvel) Estou sim?... È da pizzaria?... Queria encomendar uma pizza... uma pizza romana bem tostadinha ok?.. E queria pedir o favor que me a trouxessem aqui à paragem de autocarros de Serpins... Obrigados! Comprimentos! (desliga o telemóvel e mete-o no bolso)


Celestina: Que massada! Mas será que o autocarro nunca mais vem? (olha para as horas do seu relogio de pulso. Continua com a sua renda) 4 minutos atrasado! Este motorista é sempre o mesmo, sempre atrasado! Não há dia nenhum que chegue a horas, deve pensar que as pessoas têm a vida dele. Hã! Mas eu sei muito bem o que este motoristazeco anda a fazer! Sei muito bem qual é a razão do atraso. Anda metido com a empregada do café do moelas! Parece que vai lá para o café para o marmelanço mais ela, depois uma pessoa é que tem de ficar aqui á espera a secar. Ouvi dizer que andam para lá aos beijos mesmo na frente dos clientes não tem vergonha nenhuma. Aquele café é pior que a casa dos segredos! Mas tão bonito é ele como ela. Pois a moça é casada, tem dois filhos de pais diferentes e nenhum é do actual marido! É mesmo uma badalhoca aquela gaja. E agora por causa deles tenho a minha vida atrasada. Precisava tanto de ir á vila e não tenho transporte proprio. O meu marido já faleceu, foi no dia do nosso casamento, o padre perguntou-lhe se ele queria casar comigo e ele nem teve tempo de responder. Caíu para o lado nunca mais se levantou. Bateu logo ali a asa! Já tentei tirar a carta de condução, mas chumbei 20 vezes no exame de codigo. Á 21ª vez passei, mas cheguei ao exame de condução, não parei num sinal de stop e pimba! Chumbei novamente! É que esta aldeia é pior que a linha do ramal da Lousã! Parou no tempo! Não há nada para uma pessoa ir á compras. Só temos um café. Tivemos comboio mas fecharam a linha, tínhamos um talho mas foi fechado pela Asae, porque pelos vistos foram apanhados a vender carne de ponei, em vez de carne de cabrito. Por isso, quando precisamos de alguma coisa, temos de ir á vila de autocarro, ou então de boleia. Mas isso de aceitar boleias já acabou há muito tempo. Aqui a Celestina já não aceita boleias de ninguém primeiro, porque temos porque temos que puxar pela nota no final da viagem, depois porque aqui há tempos uma vizinha minha deixou-me a meio do caminho, porque eu ia a falar de mais. Ainda tive que andar a pé uns bons quilometros e eu já tenho 60 anos. Não sou nenhuma jovem! Por isso é que nunca mais aceitei boleia de ninguém, só vou á vila de autocarro. Mas primeiro que ele cá chegue é um castigo. (olha para as horas) 15 minutos atrasado! (continua com a fazer a sua renda) Eu que tenho tanta coisa para lá fazer na vila. Precisava de ir ás compras. Tenho que andar sempre a pedir chouriço ao meu visinho, porque não tenho lá em casa. Se não fosse o homem não comia chouriço. Precisava de ir á Manuela dos pêlos arrancar o resto do meu buço, pois a neta, da filha da minha prima Charneca, fez-me a depilação ao buço mas só arrancou metade, a outra metade ficou por fazer. Se é que é uma habilidade que ela tem e diz ela que tem uma loja de estética. Também havia de ir á cabeleireira, somos muito amigas, sempre batia o papo com a mulher e sempre sabia se o tio, do primo, do irmão dela, anda metido com a nora, da prima, da tia, do cunhado dela. E já agora, se a prima, da mãe, da irmã, do pai, faz alguma coisa de jeito em casa. É pelos visto nem um ovo sabe estrelar! Também precisava de ir á calista, arrancar um calo que me nasceu na ponta da lingua. Isto doi muito, pensam o quê? A Calista está sempre a dizer: “Experimente falar menos!” Eu bem tento mas isto não passa. (olha para o seu relógio de pulso) Mas de certeza que já perdi a vez, por causa daquele motoristazeco de meia tijela que passa a vida no marmelanço. Mas deixem-o cá chegar, que já vai ver qual é o preço dos marmelos! (De repente o bêbado ressona bem alto. A dona Celestina mandam um salto) Raios te partam Bêbado duma figa! Que me assustaste! Este também passa a vida bêbado! Não sei de onde esta trampa veio! Deita cá um pivete e depois passa a vida enfiado no café a beber vinho! Tem o focinho curto o homem. Eu sei muito bem o que havias de beber! Era chá! Chá da meia noite. Ao menos acaba com a desgraça.


CENA 2


Entretanto aparece a Graça


Celestina: (para o publico) Olhem! Em falar em desgraça, chegou a Graça!


Graça: Olá Dona Celestina! Falta muito para o autocarro? (senta-se ao lado da dona Celestina)


Celestina: (para o publico) Eu não disse que ia ser uma desgraça? Nem o horário do autocarro sabe! Ao menos que compre um! (para a Graça) Olá Graça! Está atrasadíssimo! Já estou aqui há quase uma hora e ele ainda não apareceu!


Graça: Este motorista é sempre assim!


Celestina: Então mas como vai a Graça? Já não há olhos que a vejam!


Graça: Olhe, eu vou indo como o governo...


Celestina: (Para o publico) Pois desgovernada!


Graça: Disse alguma coisa dona Celestina?


Celestina: (riso cinico) Não! Não! Estava a falar aqui com as minhas agulhas! As malandrecas picaram-me! (novamente o riso cinico) Eheeheh! (mudando de assunto) Então mas anda como o governo porquê? Anda meia entroikada é? (riso cinico)


(dona Celestina está sempre a fazer a renda com muita energia, só pára de vez enquando para falar)


Graça: Ando meia entroikada e de que maneira dona Celestina! Ando cada vez pior e não vejo melhoras.


Celestna: (para o publico) Isso já eu sabia! (para a Graça) Então o que se passa?


Graça: É a minha osteoviróse que dá cabo de mim!


Celestina: Osteo quê Graça?


Graça: Osteoviróse! Não conhece essa doença? Fartam-se de falar disso na televisão. É falta de calcário nos ossos!


Celestina: Mas qual osteoviróse? É osteoprose que se diz! E não é falta de calcário. É falta de calcio nos ossos! Ai Graça mas que desgraça! Você é alguma máquina de lavar ou quê mulher?


Graça: Já fui! Lá vai o tempo em que eu era uma verdadeira máquina, agora não valo nada! Depois é o meu marido, ressona durante a noite depois não me deixa dormir. (O bêbado ressona uma vez bem alto e Cuscantina assusta-se) Ai credo nossa senhora da tramela! Ia-me dando aqui um penico!


Celestina: Um quê?


Graça: Um penico!


Celestina: Fanico mulher! Fanico! Ai Graça! Graça! Mas que desgraça!



Jovem estudante: (solilóquio) Que cena pá! Agora não me trazem a pizza. Que dia hoje! Já estou a ficar passada com isto. (pausa) Olha, está ali um táxi parado. E se eu for de táxi para a escola e mandar lixar a pizza e o autocarro? (pensativa) Pois, mas o táxi é um bocado caro. Oh! Que se lixe! Táxi! táxi! (chamando o táxi e sai de cena a correr pelo lado esquerdo)


CENA 3


Entretanto aparece o Rapaz das Pizzas pelo lado direito, traz consigo uma caixa de pizza


Rapaz das Pizzas: Ora bom dia! Qual das senhoras é que encomendou uma pizza?


Celestina: Fui eu!


Rapaz das Pizzas: Aqui tem! (entrega a caixa de pizza, dá á Celestina. Esta pára de fazer a sua renda e aceita a pizza )


Celestina: Então quanto é que é?


Rapaz das Pizzas: Olhe se quer saber nem sei! Acho que são cerca de 5 euros ou 10 euros. Não tenho a certeza! Mas vou ligar para a pizzaria e já me dizem!... (pega no telemovel, marca um numero, espera um pouco e fala) Estou?... Olha quanto é uma pizza 4 estações?


Celestina: Não é a pizza 4 estações! É a pizza Romana! (para a Graça) Ai Graça que desgraça!


Rapaz das Pizzas: (continua a falar ao telemóvel) Olha afinal não é a de 4 estações é a Romana! ...


Celestina: (Abre a caixa) É lá! Isto mais parece pizza Africana viu-se negra para cá chegar! É servida Graça?


Graça: Não obrigada! Não tenho fome, comi umas sopas de cavalo cansado ao pequeno almoço!


(Celestina começa a comer a pizza)


Rapaz das Pizzas: (ao telemóvel) O quê? Estás bem pá? 2 euros uma pizza? 2 euros é o preço da tosta mista pá! Passa o telemóvel á rapariga das mesas! Tu não percebes nada disto pá! ... Sou muito esperto o quê, pá?... Mas quem é que se quer atirar á rapariga? Só que quero fazer uma pergunta de trabalho á rapariga. Já que tu és um incompetente, que nem sabe o preço de uma pizza, deixa-me falar com quem sabe.


Celestina: (para a Graça) Olha quem chama incompetente! O rei da incompetência!


Graça: Realmente! Se é que deve ser uma pinçaria bem arranjada!


Celestina: Pizzaria mulher! Ai Graça que desgraça!


Rapaz das Pizzas: (continua a falar ao telemóvel) O quê? Ela não pode falar?... Então porquê? Estou? ... Patrão?... Estou aqui numa paragem do autocarro, patrãozinho... Então queria saber quanto é a pizza Romana?... Sim está bem!... Está bem patrão obrigado!... Com licença! (guarda o telemóvel) Olhe o meu patrão diz que perdeu o catalogo das pizzas e também não sabe os preços decor!


Celestina: Então olhe rapaz! (tira a carteira) Tome lá 50 euros e pode ficar com o troco!


Rapaz das Pizzas: Tem a certeza que posso ficar com o troco?


Celestina: Tenho! Vá lá destribuir as suas pizzas á vontade! Esta por acaso está uma delicia! Bem diz o outro quanto mais negra, melhor é a febra!


Rapaz das Pizzas: Obrigada minha senhora! (abraça e beija a Celestina) Finalmente tenho sorte na vida! É só azares atrás de azares, então hoje nem se fala! Pois a minha mota ficou sem gasolina ali adiante. Esqueci-me de verificar o deposito e agora estava ver que tinha ir no autocarro!


Celestina: Olhe então aproveite a grojeta e vá meta gasolina nas bombas mais proximas, que o autocarro hoje está pior que as obras do metro mondego. Nem anda nem desanda!


Rapaz de Pizza: Obrigada! A senhora é uma santa, hei-de ir a Fátima a pé só para lhe agradecer! Obrigada! (sai)


CENA 4


Graça: A dona Celestina está bem? Dá 50 euros ao rapaz assim? Nem parecem coisas suas! Não a estou a reconhecer!


Celestina: Deixe lá isso! A nota também é falsa, fui enganada ante-ontem! Além disso a pizza também não era para mim! Mas como estou cheia de fome aceitei.


Graça: Coitado do rapaz! Não tem mesmo sorte na vida! Deve andar mesmo amaldiçoado!


Celestina: Tem a certeza que não quer um bocado de pizza?


Graça: Não obrigada! Não gosto de comer pinça! Prefiro empurrado!


(Celestina mete a caixa da pizza no caixote do lixo. Senta-se novamente e recomeça com a sua renda)

Celestina: Mas que é que você está para aí a dizer mulher? Prefere emporrado?


Graça: Então não sabe o que é emporrado? É tão bom! E um emporrado de espinafres que delicia!


Celestina: Ai Graça que desgraça! Esparregado! É esparregado que diz mulher! Você qualquer dia ainda vai presa, por causa das besteiras que diz!


Entretanto ouve-se a sirena da policia


Graça: Mas o que se passa? Esta ali a policia!


Celestina: Sei lá!


CENA 5


Entretanto aparece o Rapaz das Pizzas algemado a ser levado á força por um policia


Rapaz das Pizzas: (grita) Solte-me! Solte-me por amor de deus!


Policia: Vamos embora!


Rapaz das Pizzas: (grita) Eu só ia para meter gasolina!


Policia: Pois e ias pagar a gasolina com uma nota falsa! Não era? Espertinho!


Rapaz das Pizzas: Mas eu não tive a culpa!


Policia: Pois não! Foi o Papa Xico querem ver! Andas a tentar enganar as pessoas e depois não queres assumir as responsabilidades! Podias ir para politico!


Rapaz das Pizzas: Mas eu fui enganado primeiro!


Policia: Isso não é a mim que tens de dizer é quando chegar-mos ao posto!


Celestina: É uma vergonha! Já não se pode confiar em ninguém! É só vigaristas neste país!


Rapaz das Pizzas: (grita) Você é que me enganou sua velha!


Celestina: Eu? Eu não engano ninguém!


Rapaz das Pizzas: Sua bruxa!


Policia: (para o rapaz) Oh! Oh! Respeitinho rapazola! Senão apanhas a pena a dobrar por insulto a uma cidadã!


Rapaz das Pizzas: Mas foi ela que me tramou! Ela é que me pagou uma pizza com uma nota falsa!


Celestina: Eu? Eu nem gosto de comer esse tipo de comidas!


Rapaz das Pizzas: Pois! E o Sporting vai ganhar o campeonato esta temporada!


Policia: Cala-te rapaz! Olha que tu não gozes com o meu clube! Que ainda te lixas ainda mais!


Rapaz das Pizzas: Mas ela é que me deu a nota falsa!


Policia: Vê se cresces rapaz e assumes o que fazes! Não metas as culpas nos inocentes! Agora vamos para o posto!


Rapaz das Pizzas: (grita) Isto não é justo! Isto não é justo! Isto só mesmo em Portugal! Sou enganado e depois vou preso! (para dona Celestina) Eu juro se algum dia a apanhar que a desfaço em picadinhos e meto-a numa pizza! Percebeu sua velha?


Celestina: Está maluco o rapaz!


Policia: (para o Rapaz das Pizzas) Mais um ano na tua pena! Ameaça a uma cidadã!


Rapaz das Pizzas: (grita) Isto não fica assim!


Policia: Cale-te antes que eu seja obrigado tomar medidas drásticas!


Rapaz das Pizzas: (grita) Vai paga-las! Vai paga-las!


(Policia e Rapaz das Pizzas saem de cena e a sirene pára de tocar)


CENA 6


Graça: Ai dona Celestina! Como pode fazer uma coisa destas ao Rapaz das Pizzas? Coitado do moço! Foi preso por causa de si!


Celestina: E desde quando é que em Portugal se prendem os verdadeiros culpados? Além disso! Vai ter roupa lavada, comida de borla e televisão. Tudo de borla! Com a crise que vivemos só tem de me agradecer!


(Piélas volta a ressonar alto. Graça e Celestina assustam-se)


Graça: Aí! Que foi isto?


Celestina: Foi aquele desgraçado daquele bêbado outra vez! Era vir um carangueijo e comer-lhe o coiso!


Graça: Olha mas está ali um homem? Como é que eu não tinha reparado?


Celestina: (para o publico) Eu não digo que esta mulher é uma desgraça? (para a Graça) Abra os olhos mulher! Ele já ali estava quando você chegou mulher!

Graça: Olha mas ele é o Pielas!


Celestina: Foi uma piéla e de que maneira!


Graça: É ele mesmo o Pielas! Eu realmente bem me pareceu que estava aqui um cheiro esquisito!


Celestina: Pois! Esse é como deserto do Saara já não vê água há séculos.


Graça: Sara? Quem é esse fulano?


Celestina: Mas qual fulano Graça?

Graça: Esse Sara! Também um homem com nome de mulher, onde é que já se viu? Não me diga... Não me diga que ele é rabiló! Bem isto é para o que está a dar! Deve ser efeitos da troíka! O Passos Coelho mete a malta toda entroicada das ideias.


Celestina: Ai Graça! Mas que desgraça! Você é que anda entroicada das ideias! Eu não falei em nenhum homem chamado Sara! Eu disse que aí esse bêbado, esse Piélas, ou como raio se chama, é como o deserto do SAARA! Não vê água no coiro há séculos!


Graça: Ah! Não diga isso do Pielas! Coitadinho! Olhe que ele ainda pertence á minha familia!


Celestina: (para o publico) Pois agora é que eu estou a ver de onde vêm tanta pancada!


Graça: (levanta-se e vai ter com ele) Coitado do Pielas! Parece que caiu para dentro de uma fossa!


Celestina: Coitado? Coitada é de mim! Já estou farto deste cheiro e de o ouvir ressonar! Assim como estou farta desta manhã infernal, de esperar pelo autocarro e ele não aparece! (olha para o seu relógio de pulso) Daqui a pouco é hora do almoço e aquele verme do motorista sem aparecer! Que irresponsável chixa! É que á tarde não dá para ir á vila, só agora de manhã! Tenho mais que fazer! É que a partir das 2 horas, vai dar na TVI um programa especial com o Manuel Luís Goucha e eu não posso perder. Depois tenho que ver a minha novela que passa logo a seguir. Ah! Também não me posso esquecer de publicar no morar do meu facebook, que apanhei uma grande seca na paragem do autocarro.


Graça: (fala com o pielas como ele fosse um bébé) Piélas! Cucu! Piélinhas! Cucu! Acorda meu malandreco! A prima está aqui, não deixa que te façam mal!


Celestina: Mas o que é que você está a fazer Graça?


Graça: Estou a ver se o Piélas acorda! (para o Piélas) Piélas! Olha a prima! Acorda seu malandro!


Celestina: Ai Graça! Que desgraça!


Piélas: (Acorda meio estremunhado) Que é?


Graça: (para o pielas) Olhem para ti pareces mesmo um sem abrigo!


Piélas: Sem abrigo eu? Mas eu tenho abrigo!

Celestina: Deve ser é ali na fossa do Zé dos Porcos pelo cheiro!


Piélas: Mas o quê?? Não me chateiem a cabeça! Eu preciso é de falar com o Albardas! (levanta-se a cambalear, deixa cair o carapuço. Graça vai atrás dele)


Graça: Anda cá Piélas! Para onde vais? Estás bêbado!


Pielas: O que queres ao Pielas? Deixa o pielas em paz! O Pielas quer é falar com o Albardas! (chama) Oh! Albardas? Oh! Albardas onde é que estás? Á ladrão! Prometeste-me um copo e fugiste!


(Pielas saí de cena)


CENA 7


Graça: Volta aqui pielas! Ainda és atropelado por um carro!


Celestina: Deus te ouça Graça! Deus te ouça mulher! Também era menos um que andava aí aos caídos!


Graça: (revoltada) Olhe dona Celestina eu não lhe admito isso! Não lhe admito que trate assim o homem! Ele é meu familiar!


Celestina: Mas o quê? Não me levante a voz Graça? Porque eu sou mais velha que voçê! Veja o respeito!


Graça: Respeito? Respeito? Olha quem fala de respeito! Você é que não tem respeito por ninguém, só sabe dar á lingua, é mal-educada, é uma siníca, fala mal de toda a gente e é maldosa!


Celestina: (ofendida) Mas... Mas... mas com quem pensa que está a falar? Quem você pensa que é? Você é uma burra! Nem falar sabe! Não lhe admito que fale assim para mim! Ouviu?


Graça: Falo assim para si, falo dona Celestina! Voçê tem de ouvir as verdades! Lembre-se que hoje um rapaz foi preso por causa de si! Isso é feio! Percebeu? Também não tem o direito de falar assim para o Piélas, não pode tratar as pessoas como lixo! O Piélas é bom homem! É assim porque nasceu um bocado tarde! Percebeu? Demorou 12 meses para nascer!


Celestina: Pronto! Está explicado a razão da pancada do homem! Pois os burros é que demoram 12 meses para nascer!


Graça: Não diga essas coisas dona Celestina! O que é que a senhora vai fazer á missa todos os domigos, se passa a vida a fazer mal a todos? Hã? Diga dona Celestina! Você só de pisar o chão da igreja já está a pecar!


Celestina: (ofendida) Mas... Eu vou á missa para rezar pelo meu pobre marido e pelo meu pai que já estão no céu!


CENA 8


Os dois homens passageiros e a senhora passageira saem de cena assustados com a algazarra, fica só a dona Celestina e a Graça em cena


Graça: O seu marido não conheci, mas o seu pai lembro-me dele, morreu á 3 anos salvo erro! Era o senhor Proporciano não era?


Celestina: Era esse mesmo!


Graça: Pois! O seu pai era bom homem! E foi o bom homem que você deixou apodrecer no lar onde eu trabalhei! Nem o ia ver! Eu bem me lembro dona Celestina! E ainda fala você mal deste e daquela!


Celestina: Ouça aqui! Sua troika tinta, você não tem o direito de me chapar isso na cara! Meta-se mas é na sua vidinha.


Graça: As verdades são para ser ditas e agora se me dá lincença vou embora! (vai para sair)


Celestina: Ai vai embora? Não tinha de ir ao médico da vila tratar da sua osteoperóse?


Graça: (volta para trás) Quem disse que eu tenho osteoperose?


Celestina: Foi você!


Graça: (ri na cara dela) Acha mesmo que eu tenho osteaperóse? Eu estava a brincar consigo mulher! Não tenho doença nenhuma! Estou bem de saúde, rija que nem um calhau! Como vê não é tão esperta quanto parece! E agora se me dá licença vou andando!


Celestina: Então e o autocarro?


Graça: Qual autocarro?


Celestina: Então a Graça não veio aqui para apanhar o autocarro?


Graça: Eu não. Só vi aqui descansar as minhas pernas porque estou farta de andar.


Celestina: Então e porque me perguntou se faltava muito para o autocarro?


Graça: Eu só perguntei por perguntar. Curiosidade. (vai para sair)


Celestina: Olha que o seu primo deixou ficar o carapuço!


Graça: Qual meu primo?


Celestina: O pielas!


Graça: (ri) Nem o conheço de lado nenhum, só quero é ver se arranjo um companheiro, mas este fugiu! É que o meu marido já não me procura tanto! Vou á procura de outro companheiro em outro lugar!


(Graça sai de cena)


CENA 9


(fica Celestina fica sozinha e abandonada)


Celestina: Isso vá se embora! Vá se embora! Com que então anda á procura de um companheiro e com marido em casa. Badalhoca! Esta é que eu não esperava! Depois é mentirosa e eu estupida acreditei nela. Depois eu é que sou a má desta história! (imita a Graça) Ai tenho uma osteovirose! Afinal era a gozar comigo! (imita novamente a Graça) O seu pai era bom homem! Foi o bom homem que abandonou no lar! (fala normal) Sonsa! Lá sabe ela o que diz! O homem já não estava bom da cabeça! Já não o conseguia aturar! Abandonei o meu pai sim! Porque ele era um barrasco e abandonou-me uma vez em Angola, quando eu era criança. Andou para lá enrolado com as Angolanas, depois fez para lá filhos a dar com pau e elas não o largavam. Queriam todas casar com ele! Então fugiu para Portugal e deixou-me sozinha com a minha Mãe até rebentar a guerra. Depois, também viemos para cá! Por isso essa Graça que não fale daquilo que não sabe! Mas ela tem-me as prometidas, pois com a Celestina não se brinca. Um dia destes agarro numa catana que o meu pai trouxe de Africa! Escondo-me ao pé da casa dela e quando ela for a passar! (pausa) ZÀZ! Corto-lhe umas silvas que ela tem lá ao pé de casa! Pois aquela mulher não vê nada á frente dos olhos. Aquilo mais parece a floresta da amazónia. Ela há-de ver que aqui a Celestina tem 60 anos, mas mas não anda a dormir! (tira uns binóculas da carteira) Há pois! Posso morar no monte da aldeia, um pouco isolada da população mas tenho a aldeia toda sobe o controle! Comprei estes binóculos nos chineses dão-me muito geito! Por isso a menina Graça que se meta a pau comigo, porque eu não brinco em serviço! Bem! O que é que eu estou para aqui a falar sozinha que nem uma doida? Vou-me mas é embora já que o autocarro não vêm. Mas amanhã vai ouvir poucas mas boas. (arruma a sua renda na mala, levanta-se) Ai as minha cruzes! (pega na mala e vai-se embora sai de cena)


CENA 10


Entretanto ouve-se o barulho de um autocarro a chegar á paragem. Aparece um autocarro (pode ser de papelão ou qualquer coisa a imitar a um autocarro). Lá dentro vem o Motorista a fazer que vem a conduzir


Motorista: Maldita paragem do autocarro sempre vazia! Eu não acredito que apanhei uma fila de carros pelo caminho, por causa de um papa reformas, para chegar aqui e não estar cá ninguem. Nunca mais me enganam! (arranca e sai de cena)


CENA 11


Entretanto aparece uma senhora de idade, com uma bengala vindo do lado contrario do autocarro.


Senhora de idade: A que horas passará o autocarro? (olha para as horas. Tira o horário do bolso) Está atrasado! Sempre a mesma coisa!(senta-se no banco)


(fecha-se os panos)



FIM



AUTOR: Luís Gonçalves


26/03/2013



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terça-feira, 19 de março de 2013

Uma Lição sem o tonecas (filme voz off)

Ora Viva! Mais uma obra da minha autoria encenada!

Depois do monologo "Á espera de ser chamado", chegou a vez da peça "Uma lição sem o tonecas" ter também o seu filme. Infelizmente está em voz off, para imitar o tempo em que passava "as Lições do Tonecas" na radio.

A peça foi interpretada pelos alunos do 2º e 4º ano da escola Eb1 da Pereira (Miranda do Corvo) na festa de Natal da escola.
  A todos eles um muito obrigado e um grande abraço do homem do teatro



FICHA ´TECNICA:

Autor do Texto e montagem do filme: Luís Gonçalves

Professora Titular da turma: Albertina Lima
Com a colaboração do professor Nelson Alves na parte musical

Elenco da peça:
Daniel Matos
Gonçalo Paiva
Flávia Sousa
Francisco Caetano
Gonçalo Rodrigues
Inês Caetano
João Pascoal
Leandro Rodrigues
Leonardo Vasco
Luís Paiva
Mariana Simões
Mariana Silva
Mauro Gerlich
Raquel Morais
Vasco Dias





domingo, 17 de março de 2013

A minha 1ª entrevista como dramaturgo amador


   Ora viva! Esta Sexta feira passada, fui a uma entrevista á escola primária de Miranda do Corvo (eb1 da Pereira), convidado por uma professora da escola. Os alunos foram ao meu blogue, gostaram do meu trabalho e interpretaram uma peça da minha autoria (Uma lição sem o tonecas) na festa de natal da escola. Até que me quiseram conhecer, quiseram saber um pouco sobre mim, então aceitei o convite da professora e esta sexta-feira passada lá estava eu na escola eb1 da Pereira. Um pouco nervoso ao inicio, mas rapidamente me senti á vontade, pois fui muito bem recebido por todos. Fizeram-me uma pequena entrevista e voltaram a representar a minha peça.
Fica aqui um vídeo com a encenação da peça.